segunda-feira, 4 de abril de 2016

VAMOS TREINAR O DIRIGENTE?

Mais um treinador de Divisão de Acesso - RS demitido. Diante disso volto ao tema e de certa forma até repetitivo, mas precisamos urgentemente iniciar um processo para treinar os dirigentes, pois continuam com critérios equivocados ou sem nenhum, para avaliar, discutir e contratar esse profissional, além de desconhecerem e não estabelecerem qual o perfil ideal do técnico para o seu clube. Vou citar alguns pensamentos e argumentos usados por eles para definirem, quem estará liderando seus vestiários: 
                          
1. Há colegas que nos últimos dois anos derrubaram três clubes, o que não prova totalmente a sua incapacidade, mas deveria servir como amostragem que atualmente as coisas não andam bem, mas estão sendo contratados por um acesso há cinco anos atrás. Não quero que colegas me interpretem mal, mas para chegar onde queremos nessa postagem, é importante esclarecer certos pontos;
 
2. A idade e o tempo de serviço, ou seja, a experiência também está sendo um requisito muito utilizado, o que é correto, mas é preciso uma avaliação cirúrgica dos resultados do técnico em todo o período;
 
3. Ser ex-atleta famoso, de clube grande que o dirigente é torcedor também se tornou motivo de contratação, e nesse momento é chamado um ídolo e não um técnico. Existem muitos que se preparam para a função enquanto jogavam, esses estão no caminho certo, mas não é essa a questão e sim a posição do dirigente  em sua limitada avaliação, e o que temos visto por aqui é uma enxurrada de ex-atletas iniciando carreira de treinador sem prepararem-se corretamente; 
 
4. Outro argumento decisivo usado pelo dirigente tem sido a possibilidade de baixa remuneração ao profissional, o que se tornará pesado logo em seguida. Não sou contra trabalhar por valor baixo em algum momento da carreira, até porque os maiores técnicos do país passaram por esse processo para entrarem no mercado, o que não está errado, mas o problema passa acontecer quando se usa esse artifício para se manter nele, sem valorizar a carreira, o trabalho e o cargo. O futebol precisa muito mais do que salários baixos;

5. Recentemente um clube resolve oportunizar um colega por ser amigo dos dirigentes, mas sabiam do erro, mesmo assim contrataram, e no caminho o que aconteceu? Já sabemos a resposta;
 
6. Saber lidar com atletas jovens. Gente, se existe um argumento que me irrita e me tira do sério, é esse, até porque, o treinador que não souber lidar com jovens precisa mudar de profissão, eles são a maioria. Também tem aqueles que falam em treinador que sabe lidar com os cascudos, olha a limitação do sujeito.

7. Ele reside na mesma cidade em que o clube tem sua sede. Aqui vai um conselho, se você dirigente, não dispõe de recursos suficientes para hospedar esse profissional, não deveria nem abrir as portas do seu clube, já inicia errado e o final já sabemos qual será o resultado;
 
8. Por vezes escuto dirigente dizer que o técnico contratado é um estudioso do futebol. Ora, isso não deveria ser qualificação e pra mim não é, jamais será, isso é tão somente uma obrigação, todos devem ser;
 
9. Alguns colegas já passaram por determinado clube, não realizaram um bom trabalho, isso dito pelo próprio, mas no ano seguinte, lá está ele novamente contratado pelo mesmo dirigente, o resultado final? Sabemos;
 
10. Temos o gerente que se torna técnico, depois volta pra gerencia, retorna ao campo como auxiliar, cai técnico, ele assume o time e por ai vai se levando, nenhuma conquista, nenhum preparo, mas vai se mantendo num cargo que deveria ser tratado de forma mais séria e digna;
 
11. Agora, pasmem com esse argumento, isso ainda acontece nos dias de hoje. A famigerada parceria com empresários picaretas que prometem pagar salários, indicam o treinador garantindo sua remuneração e logo nada acontece, e o dirigente iludido fica com todos os problemas criados pelo tal salvador da pátria. Querido dirigente, empresário bom, ganha dinheiro, não perde, então não acredite em papai Noel e coelhinho da Páscoa, eles não existem;

Dito isso e concluindo, se o dirigente comete esses erros, tem alguma possibilidade de não precisar demitir num futuro próximo? Nenhuma chance.

Meu sincero conselho, trace um perfil, façam perguntas uns aos outros tais como: a. Quais os últimos resultados do profissional (avaliem no mínimo 3 anos);

b. Como é sua relação com a imprensa, de que forma coloca suas ideias e os projetos do clube. Lembre-se de que ele falará do dia a dia da instituição em todos os veículos de comunicação e isso faz dele o principal marqueteiro que terá como aliado;

c. Como exerce sua liderança?  

d. Descubram algumas de suas características de vestiário, tais como: motivação, organização, planejamento, é concentrador ou sabe delegar funções, trabalha em equipe ou é individualista, sua comunicação é didática e qualificada ou repleta de jargões de um futebolês ultrapassado e que em nada contribui..................faça uma varredura total;

Já estive fora do campo, na administração e gerencia de futebol por muitos anos e hoje procuro ser um profissional em que eu, como dirigente gostaria de ter trabalhando ao meu lado, mas infelizmente minhas credenciais, métodos e o meu perfil técnico não foram capazes de me manter no mercado logo após ter conquistado dois títulos em 3 meses e estou á mais de um ano e meio aguardando convite de algum clube. Por vezes meu nome surge na mesa do dirigente, mas as opções vem de encontro ao que coloquei nesse time de 11 argumentos acima usados para definir essa função tão importante no futebol, mas tratada de uma forma tão covarde e infeliz por quem comanda fora do campo.

 Bom, mas se até a nossa querida Seleção Brasileira hoje não possui um treinador de futebol, mas sim um ídolo comandando, o que esperar dos clubes?
Ser técnico de futebol é uma arte rara, algo nobre, mas infelizmente não é tratada como tal.