Esse departamento já realizou grandes trabalhos no Esporte Clube Guarani, sendo responsável pela formação de vários atletas de destaque nacional e internacional. Lembro muito bem do ano de 1990 quando o Presidente era o Dr. Celso Artus e naquela época já se tinha a visão de que o clube só sobreviveria no futuro formando atletas em casa. Foi um belo inicio e os bons resultados começaram a aparecer após 1992 quando formaram uma diretoria que cuidava exclusivamente das categorias de base. Os diretores eram o Dr. Jorge Nazário, Hilário Breunig e o Paulo Battisti (Pauleta) e ali surgiu o profissional Mano Menezes que hoje está entre os melhores técnicos do país. Tenho orgulho de escrever sobre essa época porque fiz parte desse trabalho como auxiliar do Mano no ano de 1993 e foi nesse período que começou a surgir atletas de destaque e que renderiam altos valores aos cofres do clube. Foram quatro anos de trabalho desse grupo (92, 93,94 e 95) que possuía orçamento próprio e foi esse o diferencial administrativo e responsável em grande parte pelos resultados obtidos. A próxima diretoria muito bem organizada do amador e que também pautou todo planejamento em cima de um orçamento próprio e criado para investimentos nas categorias de base veio no ano de 1997, se estendeu até 1999 e era liderada pelo diretor Elton Etges que montou uma equipe de trabalho atuante e que também foi responsável por descobrir algumas pédras preciosas, entre elas o técnico da equipe de juniores Chicão que iniciava sua carreira profissional. Uma das mais importantes descobertas foi sem dúvida do atacante Baré que até os dias de hoje rende valores importantes ao clube. Ele atuava pela equipe de juvenis que era treinada inicialmente pelo Oscar Schwingel (Bofa) que o descobriu e posteriormente assumiria o Oneide Dallafavera que realizaria o trabalho final de lapidar e formar o atleta. Essas duas diretorias tinham algo em comum. Buscavam seus próprios recursos separando bem o amador do profissional evitando qualquer tipo de interferência ao trabalho.
2ª foto: Atleta Baré.
3ª foto: Equipe de juniores do técnico Chicão.
Foto: Elton Etges
Para que fique bem entendido é preciso dar uma volta no tempo. Lembro do ano de 1986 quando fui jogar nos juniores do Internacional de Santa Maria, pois foi o período em que mais se descobriu bons jogadores para o clube, entre eles: João de Deus, Sandro Gomes, Sandro Corrêa, Faller, Éder Luiz, Tigre, Rogerinho, Índio, Luiz Paulo, Jaime. Talvez esteja esquecendo de alguém, pois foram muitos, mas os que citei fizeram história no futebol. Lá existia um grupo que cuidava do amador com recursos próprios. Um ano antes em 1985 foi campeão gaúcho da categoria Junior a equipe do Brasil de Pelotas que atingiu esse resultado graças a uma diretoria que buscava patrocínios apenas para a base. Alguns atletas formados pelo clube e que viriam futuramente se destacar no futebol gaúcho foram: Dias, Jair, Gilvan, Marco Aurélio, Renatinho, Álvaro, Jéferson, entre outros. Aqueles que acompanhavam futebol nos anos 80, vão lembrar desses nomes e que alguns de ambos os clubes tiveram destaque internacional.
Faço essa analogia para mostrar que no futebol não existe segredos nem mistérios. Tudo o que se precisa fazer é copiar, sem querer inventar, sem querer ser diferente, sem querer ser o melhor ou o salvador da pátria. No futebol as coisas acontecem rápido e a legislação desportiva se tornou cruel com aqueles que tem dificuldade em evoluir, aprender e entender queesse esporte a muito tempo virou negócio e não tem mais lugar para amadores, para apaixonados. Nos clubes grandes a sustentação financeira das categorias de base vem de um percentual do orçamento anual que é destinado para essa finalidade, mas nos clubes pequenos a saída além da profissionalização dos dirigentes que comentaremos mais na frente, ainda é separar os recursos. Profissional e amador atuando juntos, em plena sintonia, mas cada um gerando seu próprio recurso e desenvolvendo seu trabalho. Ainda é preciso da paixão, até porque estamos falando de um esporte que é movido por ela, mas apenas isso não resolve a vida dos clubes a muito tempo.
DECISÃO DIFICIL
Em 2008 montamos uma equipe para cuidar do departamento amador, pois acreditávamos que aquele era o momento ideal de realizar novamente um trabalho planejado, organizado e arrojado na base. Iniciamos a categoria junior pensando na possibilidade de formarmos também o juvenil. Os recursos financeiros estavam limitados e nossa posição sempre foi à mesma desde o inicio da nossa gestão. A prioridade seria a equipe profissional e paralelamente através de um grupo de dirigentes responsáveis pelo departamento amador seriam gerados os próprios recursos para se desenvolver o trabalho com as categorias de base. As idéias e vontades eram ótimas, mas existe uma distância longa entre desejar e ser possível. Em muitas ocasiões buscamos os exemplos que deram certo no passado e gostaríamos que essas lições fossem seguidas, não por vontade própria, mas pela necessidade e por acreditar que aqueles métodos eram os mais eficientes e o único caminho a ser seguido. Meu coração ficou despedaçado quando tivemos que decidir fechar o departamento amador em função da falta de dinheiro para prosseguir com o trabalho. Ter que demitir uma comissão técnica que esta buscando seu espaço e tirar a possibilidade de um garoto tornar-se alguém importante e com futuro brilhante nos gramados me deixava chateado, mas tínhamos que fazer de tudo para não comprometer todo projeto do time profissional que é a razão principal do clube existir. Sabíamos que esses jovens atletas um dia se casariam, teriam filhos e nós certamente estávamos influenciando na vida de varias gerações futuras, mas fizemos aquilo que precisava ser feito. Essa foi a decisão mais difícil que tomamos no ano.