terça-feira, 6 de setembro de 2011

CONTADO PELA 1ª VEZ/ATLETA EDENILSON (CORINTHIANS SP)

UMA DECISÃO, UM SONHO REALIZADO, ASSIM NASCE UMA ESTRELA
E.C. Guarani (clube que orgulhosamente presidi), Venâncio Aires, agosto de 2008, nossa equipe havia acabado sua participação no octogonal final da 2ª divisão na quinta colocação e um convite da FGF para que disputássemos a Copa RS no 2º semestre estava em minhas mãos. Olhava pra trás e lembrava das dificuldades que enfrentamos para conseguir levar a equipe até a fase final da competição. Olhava para o presente e me deparava com dívidas, sem patrocínio, com minha diretoria e o conselho solicitando encerramento das atividades, mas ao fechar os olhos e ver além do que nossos olhos alcançam passei a refletir. Como presidente precisava ser frio, observar os números e decidir por encerrar o trabalho naquele momento mas, como profissional do futebol tinha certeza que naquele grupo de meninos sonhadores existiam 3 atletas que seguiriam em frente, que prosperariam. 

Havia solicitado ao nosso diretor financeiro Cesar Ernsen um relatório do passivo e uma projeção de custos da competição que iniciaria em seguida. Ao entrar na sala de reuniões disse: Júlio, “é inviável, não podemos jogar, é suicídio”. Avaliamos juntos todas as possibilidades, ouvi e analisei atentamente os argumentos de outros diretores e apenas pedi para que eles mostrassem a real situação ao grupo que nos aguardava ansiosamente no vestiário por nossa decisão. No caminho entre a sala de reuniões e o vestiário me falou: “qualquer que seja a decisão estarei contigo”. Entramos, todos sentados, o Cesar inicia sua explanação e eu observo os rostos de cada um deles. Todos escutavam atentamente, mas alguns com olhar na minha direção. Começo a me questionar: “qual o direito que tenho de interferir na vida deles? E se aqui tiver um, dois ou mais daqueles diferenciados, e eu sei que tem. Cabia a mim decidir, mas antes propus um acordo importante entre direção, comissão técnica e atletas ao qual foi aceito por todos, então falei em alto e bom som: “vamos jogar”. Aquele grupo possuía algo diferente, ali existiam sonhos, com valores e entre eles o menino Edenilson, carinhosamente chamado pelos companheiros de Meio Quilo por ser magro. Foi num jogo em Caxias entre Guarani x Juventude pela Copa RS 2008, perdemos o jogo mas ele mostrou seu talento e nesse mesmo dia dirigentes do Caxias que assistiam ao jogo me contataram pra obterem informações do menino.

Hoje no Corinthians, participando sempre da equipe do técnico Tite, Edenilson, o nosso Meio Quilo faz fama, sucesso e certamente se tornará um dos grandes jogadores do futebol brasileiro e que em breve vai alçar voos mais altos. Saber que participamos dessa caminhada, talvez de forma tímida mas presente, me deixa muito feliz e orgulhoso. Lembro de quando ele entrava na minha sala no sábado após o treino avisando que iria visitar a família e solicitar a passagem de ida para casa porque a volta o pai pagava. Lembro das vezes que a diretora me chamava na escola para mostrar suas notas e dizer que não queria saber dos estudos. Conversava com ele e no outro dia quando eu pensava até em tirá-lo do treino e pedir mais dedicação as aulas observava a maneira feliz que entrava no vestiário, seu relacionamento com os colegas e sua dedicação aos trabalhos de campo, estava determinado, então não me dava coragem de puni-lo daquela forma, apenas uma boa conversa.

Meu objetivo não é ser o pai da criança, longe disso, até porque ele dedicou-se muito para estar nesse lugar e fez por merecer, além de que, sua carreira é gerenciada pelo empresário Jorge Machado, um dos profissionais mais respeitados do país e teve participação importante da SER Caxias no seu desenvolvimento, mas o que quero mostrar é o efeito da decisão diante do caos, embasado numa convicção, na observação técnica, no dia a dia de um atleta, não em matemática, o futebol jamais será uma ciência exata. Posso com autoridade escrever e relatar esse fato porque foi o principal argumento que usei na época para justificar o porquê jogaríamos e quem estava lá se lembrará do meu pronunciamento e com postagem nesse blog após sua ida para o Caxias.