O momento vivido por um dos grandes clubes brasileiros me levou há escrever mais uma vez sobre as demissões de treinadores, assunto debatido ao extremo, e que continua muito enraizado nas decisões dos dirigentes, por isso vou trazer alguns segredos que, talvez desconheçam e que poderá ser benéfico para futuras medidas, um breve esclarecimento de como e porque certas situações acontecem. Primeiro vamos aos fatos para que fique bem entendido onde quero levar meus leitores: na semana que passou vimos mais um técnico ser demitido pelos maus resultados do time. Dirigentes do Botafogo FR resolveram que o Caio Junior não servia mais, alegando as consecutivas derrotas na competição. Essa prática, já antiga, precisa ter um fim para o bem dos nossos clubes e do futebol brasileiro, pois decisões são tomadas sempre baseadas nos resultados de jogos e nunca no TRABALHO, no planejamento, na relação do técnico com seus atletas, no dia-a-dia do grupo.
O QUE ACONTECE?
Numa competição longa como é o campeonato brasileiro com seus quase nove meses de jogos, viagens, concentrações, palestras, treinos, entrevistas, reuniões, sem especificar os problemas diários que precisam ser resolvidos rapidamente e muitas vezes, apenas na intuição do técnico, é lógico que as equipes viverão um período de queda e por conseqüência disso as derrotas acontecerão e isso faz parte da transição necessária. Raramente veremos um time iniciar, caminhar e chegar ao final no mesmo nível e isso é absolutamente normal e compreensível quando se trabalha com a emoção humana em que mudanças comportamentais de toda a ordem fazem parte de um grupo e exercem muitas vezes, forte influência no rendimento de um atleta.
O SEGREDO
O técnico de alto nível conhece todas as situações possíveis que podem alterar o foco individual e da equipe e por isso sabe quando vai acontecer a queda de rendimento e o que fazer para retornar aos bons resultados. Ele se mantém firme no propósito, refaz o planejamento, se necessário promove a readequação do trabalho nas derrotas, ou antes delas acontecerem e isso têm um nome que eu chamo de “GERAR IMPULSO”. Esse é o momento mágico de uma equipe, em que o dirigente precisa ter a consciência e o bom senso de tornar o TRABALHO intocável, blindando a comissão técnica e confiando na mudança e na alteração de rota proposto. “GERAR IMPULSO” não é tarefa fácil e justamente por isso precisamos ter uma preparação acima dos conceitos implantados até então. É chegada à hora do homem de visão, aquele diretor que fará toda a diferença e que na maioria das vezes será de forma camuflada.
ACOMPANHAR O TRABALHO NA SUA ESSÊNCIA
Por isso nossos dirigentes precisam estar no dia-a-dia do trabalho, acompanhar tudo de perto e não para fazer pré-julgamentos, mas para poder defender com argumentos fortes a manutenção dos principais líderes da equipe quando as derrotas temporárias aparecerem, pois é a única maneira de se obter 100% de acerto. Já presenciei bons trabalhos não terem seguimento pelo imediatismo do resultado e maus trabalhos serem mantidos pelo mesmo motivo e isso quer dizer: num curto espaço de tempo grandes técnicos, que estão "GERANDO IMPULSO" são demitidos em função dos maus resultados. Por outro lado existem os maus trabalhos com bons resultados, muitas vezes pela qualidade de seus atletas e que acabam sendo mantidos no cargo em função de vitórias, também temporárias e que no futuro será criada uma situação impossível de ser corrigida.
COMO IDENTIFICAR ESSA PROFISSIONAL
Vou citar 10 características que estão muito presentes no técnico que conhece o segredo e vou apresentá-las a seguir:
1. GERAR IMPULSO é ter convivência respeitosa com todos (trabalhar em equipe);
2. Ser o primeiro a chegar e o último a sair (atenção em todos os detalhes);
3. Viver os objetivos propostos 24 horas por dia, todos os dias;
4. GERAR IMPULSO é ter simpatia e admiração dos seus liderados;
5. É saber criticar de forma construtiva e individual, mas elogiar para todo grupo ouvir;
6. Treinar o coletivo, mas nunca esquecer que um atleta necessita evoluir constantemente e o trabalho individualizado deve fazer parte do processo, pois sabe que melhorar o todo depende do crescimento pessoal de cada um;
7. GERAR IMPULSO é identificar problemas e resolvê-los antes que sejam externados ou tornem-se prejudiciais ao grupo;
8. Saber o momento de dar um colo, mas também aquele das palmadas;
9. Algumas palavras do uso diário: trabalho, união, foco, amizade, servir, crescimento, organização, evolução........
10. A principal delas: GERAR IMPULSO é ter fé, acreditar sempre, mostrar força quando todos estão enfraquecidos, sorrir quando todos choram.
No mês de maio estive participando de alguns trabalhos do Botafogo e conheci o planejamento do Caio Junior e da sua equipe. Durante o período que lá estive, em nenhum momento sequer, vi algum dirigente no campo de treinamento acompanhando os trabalhos e o objetivo do clube estava bem definido. Não queriam cair para segunda divisão, o que não era compartilhada da mesma forma pela comissão técnica e o Caio mostrou com trabalho que poderiam sonhar com o título, conquistando bons resultados, alguns inacreditáveis. Quando foi demitido, o clube estava classificado para a taça libertadores de 2012, o que certamente ficará muito distante e eu diria até impossível nesse momento, com treinador interino no cargo. Está na hora de sermos mais responsáveis, mais profissionais e saber que lugar de torcedor é na arquibancada.
Vamos entrar num novo ano e alguns clubes trocarão seus treinadores, muitos baseados novamente nos maus resultados de campo, sem levar em conta o trabalho desenvolvido por esse profissional. Por isso prezados dirigentes, para o bem dos seus clubes, comecem a pautar suas decisões pelo trabalho bem realizado. Observem em seus técnicos se possuem as caracteristicas acima e decidam por mantê-los independente dos maus resultados, mas caso não as possuam, independente dos bons resultados busquem outro profissional urgente, porque estarão gerando impulso contrário e nesse caso será prudente a troca, pois a médio prazo teremos problemas irreversiveis.